O desejo e a divisão do sujeito:

"Não sei se quero o que desejo".

O desejo e a divisão do sujeito: "Não sei se quero o que desejo".


Somos sujeitos que deseja... e desejamos o tempo todo: um relacionamento feliz, uma profissão de sucesso,

uma casa, uma viagem e por aí vai.

Nossos objetos de desejo são coisas, pessoas mas também ações, sentimentos e é também muitas vezes um desejar o desejo do outro.

Acontece que nem sempre estamos de acordo com aquilo que desejamos, e é aqui nesta divisão, ou podemos chamar de dúvida e confusão que é preciso se questionar.


O que é este nosso desejo?


Queríamos um relacionamento, temos. A pessoa é ótima, parece tudo bem, e então percebemos que o outro não supre toda a falta, ou a relação não é coerente com o que tínhamos idealizado.


Queríamos comprar uma casa, tem a casa mas já não é suficiente, deseja outra: na praia, no centro, ou mais luxuosa.


Desejava chegar no topo da profissão. Estando no topo entende que pode faltar algum sentido, pode ser questão de tempo para si ou a família, assim percebe ou inventa uma outra razão para assumir que a realização profissional ainda não é o suficiente.


A viagem não foi tão bonita como a que viu no Instagram do amigo, as coisas não foram suficientes, o carro novo desejado já está ultrapassado…


E assim seguimos às voltas buscando nova satisfação para o desejo, felicidade e liberdade, sem nos percebermos prisioneiros de nossos próprios impulsos. Desejo e vou, e tenho, e lá na frente penso: "poxa vida, não era bem isso que queria".


Assim, talvez seja o momento de questionarmos a falta mobilizadora do desejo e como vamos lidar com ela, como podemos manejá-la.

Uma coisa é certa, não teremos tudo.

Porque nem é tudo que queremos. Nossos desejos são ciladas, mas também são pistas de nós mesmos. O processo terapêutico pode ajudar o sujeito a percorrer essas nuances; a tomar consciência dos desejos e a que eles estão associados e como pode se reconstruir ou viver a partir disso.


Não é sobre adaptar-se, mas se entender e se haver com o que vive, sente, que forças internas mobilizam nosso desejo e querer. Às vezes queremos uma coisa mas nem nos questionamos: Porque eu quero aquela pessoa, aquela casa, aquele carro, aquela vida? Não estou idealizando, fantasiando o objeto que me possa completar? Que relação meu desejo tem com a vida real que levo? Com a história de vida e familiar que vivi? Porque estou idealizando desta forma?


E aí a resposta é individual.. e não vem em cinco ou seis sessões de psicologia. A intensidade dos desejos também produz grandes angústias...e por isso queremos, ou melhor desejamos respostas rápidas, porque é essa a lógica de funcionamento do desejo.


É preciso coragem e paciência para lidar com a gente mesmo.